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Pra quem não me conhece, meu nome é Daniel. E pra quem me conhece, meu nome também é Daniel. Nunca fui um sujeito oculto, muito menos indeterminado. Uso Havaianas de número 40 e visto calças jeans de qualquer marca. Sou o que chamam de... de...de que mesmo? Num sei dizer, mas eu sempre fui o último biscoito do pacote, a última coca-cola do deserto, a tampinha premiada do refrigerante (Acredite. Ela existe), o rei da cocada preta... Enfim, eu sou a concordância verbal de um sujeito composto de qualidades inumeráveis. É só ver o meu DNA e constatará que sou o mesmo homem que vivia nas cavernas...
Fala sério... isso não diz muito sobre mim. A verdade é que nessa altura da vida, já não sei mais quem sou. Na ficha do dentista, apareço como cliente; no restaurante, sou freguês; quando alugo uma casa, sou inquilino; na condução, sou passageiro; nos correios, sou remetente; na casa de meus pais, sou filho; na Igreja, sou irmão; na Faculdade, sou estudante; no supermercado, sou consumidor; para a Receita Federal, sou contribuinte; com o prazo vencido, sou inadimplente; se não pago, sou sonegador; para votar, sou eleitor; no comício, sou massa; em viagem, sou turista; a rua, caminhando, sou pedestre; se me atropelam, viro acidentado; no hospital, me transformo em paciente; para os jornais, sou vitima; se compro um livro, viro leitor; se ligo o rádio, sou ouvinte; para o IBOPE, sou espectador; no futebol, eu, que já fui torcedor, virei galera; e, quando morrer, ninguém vai se lembrar do meu nome: vão me chamar de finado, extinto, defunto, de cujus e, em certos círculos, até de desencarnado. O PIOR DISSO TUDO é saber que para o Governo eu sou um imbecil. Por isso não me preocupo muito quanto à minha identidade, pois acredito que cada um escolhe o que quer que eu seja.